Um corpo fino, com ombros e cabeça pendentes, como uma flor que já perdeu o viço. O homem parecia que havia murchado. O quadril pronunciado para frente servia de apoio para as mãos pousadas na cintura, fazendo com que os braços lembrassem folhas saindo de um caule magro.
Se lembrasse apenas uma flor, seria poético. Mas era áspero como um filme de bang-bang no deserto. E que flor nasce em areias escaldantes? Poderia, no máximo, ser um cacto se melhorasse a postura. Espinhos já tinha. Mas projetar, daquele jeito, o quadril para frente dava mais a impressão de que sacaria uma arma.
Assim como os caipiras pistoleiros, sempre fazia cara de intimação. Olhava as pessoas de cima, porque mesmo murcho era alto e conseguia ver o topo de suas cabeças. E aquilo o fazia crescer, ainda que curvado. Ver o cocuruto de toda a gente era um poder inexplicável. Era como ser um girassol perto de marias-sem-vergonha, ele que não tinha vergonha de nada.
Não se importava de ser mal-encarado como um atirador da velha Hollywood. Tampouco percebia que era como um solo infértil. Os espinhos nunca deixaram um beija-flor se aproximar. E assim acabou se acostumando com seu deserto particular e, embora se considerasse um girassol, só olhava de cima para baixo, nunca o contrário. O que ele não sabia era que as flores, com o tempo, ficam despetaladas. Inevitavelmente, mostram ao mundo o seu miolo. A seiva deixa de percorrer seu corpo e elas ficam cada vez mais vulneráveis, como um bandido de bang-bang que se distrai e leva um tiro.
Um dia o vento sopra e leva a última pétala. Qualquer dia, o mocinho aperta o gatilho e gasta sua última bala. Daqui a pouco o beija-flor se aproxima da falta de espinhos. Ele pensa que perdeu seu escudo. Mas vejam: está, apenas, desarmado.
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